TR - Teses de Doutorado
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Item Lugar de mulher: a participação da indígena nos movimentos feministas e indígenas do estado do Amazonas(2017) Vieira, Ivânia Maria Carneiro; Oliveira, Simone Eneida Baçal de; Soares, Artemis Araújo; Pinto, Ernesto Renan Freitas; Luciano, Gersem José dos Santos; Andrade, João Bosco Ladislau de; Souza, João Luiz de; Silva, Rosa Helena Dias daCompreender e narrar o lugar, as condições e as formas de participação da mulher indígena nos movimentos indígenas e feministas do Estado do Amazonas é a finalidade deste estudo. A proposta está formulada como viagem problematizando ideias constituidoras de um pensamento sobre as mulheres indígenas e sobre a Amazônia, a partir de um laboratório de vivência-escutadora com indígenas em múltiplos ativismos nas organizações do movimento indígena, das mulheres indígenas; em instâncias governamentais e não-governamentais, nos movimentos sociais. Viajar é deslocar-se. Ter um ponto de partida e projetar pontos de chegada, chegar, preferencialmente. O roteiro traçado nasce a partir de acordos teóricos em operação permanente de construção e de abandono de instrumentos diante dos acontecimentos ao longo do caminho percorrido em busca de e com as indígenas em Manaus, São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Benjamin Constant e Autazes, lugares “escolhidos” pelo mapeamento de mulheres líderes. Compreender os processos participatórios das indígenas nos movimentos indígenas e feministas implica: inferir valoração ao status da compreensão humana como impulsionadora de ação individual/coletiva, e tema emergente do mundo globalizado cujo efeito é local; transitar numa abordagem teórico-metodológica essencialmente interdisciplinar que possibilite acompanhar, e não enformar, os movimentos das mulheres, suas percepções sobre os feminismos, as relações político-afetivas com os homens indígenas líderes, os impactos dos ativismos no cotidiano das indígenas; os entrelaçamentos entre política e cosmologias indígenas. De volta, ao primeiro porto, o estudo abre-se em escutas ampliadas em torno dos tecimentos que posicionam as mulheres indígenas na participação política, na elaboração de estratégicas internas e externas para a conquista de espaço de poder, no manejo de complexas redes comunicacionais e no desvelar de conflitos e ideias de mulheres da Amazônia em lutas continuas e cotidianas. A escrita é espaço de luta.Item A Educação escolar de indígenas surdos Guarani e Kaiowá: Discursos e práticas de inclusão(2019) Coelho, Luciana Lopes; Bruno, Marilda Moraes GarciaO atendimento escolar de estudantes surdos está em processo de constituição nas escolas localizadas em terras indígenas do Mato Grosso do Sul (MS). Nessas escolas, a valorização da língua e da cultura dos povos Guarani e Kaiowá tem sido central na luta por uma escolarização diferente. O estudo nesse contexto teve como objetivo investigar os discursos que circulam sobre as diferenças. Os objetivos específicos foram: a) Mapear os discursos/enunciados dos profissionais da educação indígena sobre a escola e a constituição de uma educação escolar diferenciada nas comunidades indígenas; b) Analisar os discursos que circulam nas comunidades pesquisadas sobre as diferenças dos sujeitos surdos; c) Problematizar as experiências de ensino de alunos surdos e estratégias linguísticas e didáticas utilizadas a partir das práticas narradas pelos professores; d) Analisar as relações de saber e poder envolvidas na invenção de uma educação inclusiva na escola diferenciada indígena. A fundamentação teórico-metodológica aborda os pressupostos da teoria pós-crítica, com a discussão dos resultados a partir das ferramentas conceituais resistência, educação menor e hospitalidade linguística propostas pelos autores Michel Foucault, Gilles Deleuze, Silvio Gallo e Paul Ricoeur. O estudo foi realizado em seis escolas localizadas nas terras indígenas Amambai, Limão Verde, Taquaperi e Takuaraty/Yvykuarasu (Paraguassu) no sul do MS. Participaram do estudo gestores da educação municipal, diretores escolares, coordenadores pedagógicos das escolas, professores e uma estudante. Foram utilizados procedimentos da etnografia pós-crítica tais como: entrevistas observações das interações e dos recursos pedagógicos, diálogos com sujeitos da escola, análise documental e registros fotográficos, os quais serviram de elementos para a análise dos discursos. Os resultados indicam que, apesar da proposta pedagógica das escolas visitadas ser o ensino do guarani e do kaiowá como língua de instrução e o ensino do português como segunda língua, para os estudantes surdos, o ensino tem priorizado a alfabetização em língua portuguesa, que é a língua majoritária dos materiais didáticos, e da Língua Brasileira de Sinais - Libras, quando existem profissionais habilitados. O estudo problematiza que o modelo educacional proposto para as escolas indígenas brasileiras baseados no ensino da língua materna indígena como primeira língua e da língua hegemônica como segunda língua não se aplica aos estudantes surdos. As estratégias de ensino que estão sendo utilizadas invisibilizam as línguas de sinais e as diferenças culturais dos estudantes indígenas surdos e não contribuem para a manutenção e valorização das línguas maternas nas comunidades indígenas.Item Plantas medicinais, práticas de autoatenção e os conflitos com a biomedicina entre os Kaingang do setor da Bananeira, Terra Indígena da Guarita, Rio Grande do Sul(2014) Fortunato, Josué Candido; Diehl, ElianaO presente trabalho de conclusão de curso (TCC) trata sobre plantas medicinais, práticas de autoatenção e os conflitos com a biomedicina no setor da Bananeira da Terra Indígena da Guarita, Rio Grande do Sul. Nas várias realidades indígenas, se observa a forte presença da biomedicina e especialmente dos medicamentos da farmácia, que muitas vezes geram conflitos com os usos das plantas medicinais. Esse TCC foi realizado através de entrevistas com os mais velhos e algumas pessoas da comunidade, buscando entender sobre os diferentes usos das plantas medicinais, as práticas de autoatenção, assim como sobre o uso da biomedicina pelos indígenas. Os resultados da pesquisa mostram que a maioria das pessoas que mora neste local, apesar de conhecer as plantas medicinais (por exemplo, os mais velhos citaram algumas plantas e para quais doenças são indicadas), não as usam mais como antigamente. Hoje, os indígenas usam alternada ou conjuntamente as plantas e os medicamentos da farmácia segundo as doenças que os afetam. A interferência da biomedicina, quando os médicos proíbem ou julgam negativamente a automedicação com plantas e/ou com medicamentos, gera conflitos, muitas vezes contribuindo para o abandono ou redução do uso das plantas. Esse TCC pode contribuir na melhoria do diálogo entre indígenas e suas lideranças e com os profissionais de saúde, no sentido de mostrar que existe um conhecimento sobre plantas medicinais que pode ser útil para todosItem Prazer e padecer: a alcoolização entre os Tembé Tenetehara de Santa Maria do Pará(2015) Garcia, Telma Eliane; Beltrão, Jane FelipeO consumo de bebidas alcoólicas adquire relevância crescente por tornar-se uma das principais causas de mortalidade entre os indígenas no Brasil. A produção científica sobre os modos de consumo de álcool entre os indígenas é insipiente, configurando-se insuficiente para dar sustentabilidade a políticas que privilegiem a diversidade cultural. Este estudo levantou esta questão emergente da ordenação social entre os Tembé Tenetehara de Santa Maria do Pará, em uma perspectiva de interdisciplinaridade, conjugando as concepções da Teoria Compreensiva em abordagem hermenêutica e dialética com procedimentos metodológicos da Teoria da Comunicação. As várias situações e discursos analisados configuram uma polissemia de vozes e de sentires em ambiguidade que percorrem do encontro com o prazer, à resultância do sofrer. Um cruzamento interdisciplinar que triangulou os discursos elencados, os dados de um mapeamento em saúde e as observações dos efeitos biológicos, sociais e culturais dos regimes etílicos agenciados neste grupo, compôs a análise final. Apesar dos efeitos desastrosos resultantes do apagamento que o contato interético impôs aos Tembé Tenetehara de Santa Maria, a possibilidade de uma ‘resistência’ desenha atualmente, uma modalidade característica no processo de alcoolização neste grupo étnico, que de maneira geral, convive com um relativo equilíbrio em suas formas de beber, não se referindo ao uso de bebidas alcoólicas como problemático para a comunidade, exceto para alguns indivíduos mais idosos e eventualmente para os jovens. Os padrões e carreiras alcoólicas criados em cada grupo étnico, induzem a compreensão da cultura como algo que tanto condiciona, compele e constrange, quanto algo que se inventa, cria e se improvisa e que imprime a diversidade, caracterizando ‘o beber’ em cada grupo, única e diversa de qualquer outro.Item Índios, jesuítas e bandeirantes: Medicinas e doenças no Brasil dos séculos XVI e XVII(2009) Gurgel, Cristina Brandt Friedrich Martin; Almeida, Eros Antônio de; Lewinsohn, RachelIsolados durante milhares de anos, os indígenas não desenvolveram imunidade diante de vírus e bactérias originários de outros continentes. Apesar de seu habitat não ser destituído de uma grande variedade de moléstias (dentre elas o pian, a leishmaniose cutânea e a doença de Chagas), no contato com o colonizador, a deficiência de resposta imune Th2 para micro-organismos autóctones causou verdadeiras tragédias entre os brasilíndios, que sucumbiam por gripes, sarampo, disenterias e principalmente varíola. Médicos formados constituíam um grupo insignificante no Brasil colonial e diante do vazio profissional, jesuítas (os primeiros que se lançaram nas práticas médicas), curiosos, curandeiros, barbeiros, benzedeiras compunham um contingente expressivo. Todos praticavam uma medicina híbrida, formada inicialmente pela medicina popular européia e indígena; ambas possuíam uma noção materializada da doença que, uma vez instituída, deveria abandonar o organismo. Diante disso, a terapêutica baseava-se em sangrias, purgas e vomitórios, além de rituais, rezas e uso de amuletos para satisfazer o sobrenatural. Estas práticas médicas concomitantemente valeram-se da variada flora medicinal nativa e foram difundidas pelos bandeirantes, que desbravavam os sertões de norte a sul - por este motivo esta terapêutica foi denominada "Remédios de Paulistas" - e foi usada para diversos males como opilação (anemia), escrófulas, "carneiradas" (malária) e "meia-cegueira" (tracoma?), comuns nas matas e vilas incipientes. Nenhuma das medicinas, erudita ou popular - que na realidade eram muito semelhantes entre si - foi eficaz diante das epidemias. A despeito de serem os indígenas suas principais vítimas, elas matavam de senhores de engenho a escravos, faziam ruir a economia e causavam fome e desalento. Falências, crescentes dívidas para importar escravos africanos (mais caros, porém mais resistentes às doenças) constituíram por muitos anos um quadro sombrio da vida no Brasil. Num círculo cruel de causa e efeito, os escravos negros substituíram gradativamente o trabalho indígena nas lavouras, mas trouxeram mais doenças, como o maculo, a febre amarela, a malária (por P. falciparum) e a própria varíola. As tentativas indígenas na defesa de seu território resultaram em fracasso; a morte, na grande maioria das vezes, foi causada direta ou indiretamente pelas doenças infecciosas de além-mar e não por canhões e arcabuzes. Assim, na falta de uma imunidade eficaz, as guerras contra os colonizadores já estavam vencidas, antes mesmo de iniciadas.Item O Riso Indiscreto: Couvade e Abertura Corporal entre os Araweté(2015) Caux, Camila Becattini Pereira de; Castro, Eduardo Viveiros deOs pais de recém nascidos são como os matadores após o homicídio, dizem os Araweté, povo de língua Tupi-Guarani, habitante do Médio Xingu, Pará. A tese se desdobra em torno dessa afirmação, tendo como objeto central a couvade e a criação de crianças nesse povo. O pós-homicídio nos fará introduzir o tempo como fator inerente ao desenrolar das relações entre um casal e seus filhos e filhas: veremos como elas se transformarão no percurso entre a gestação, o parto, o resguardo, o crescimento, a puberdade e, enfim, o casamento dos jovens e o nascimento do primogênito. Perceberemos operar nesse percurso - tal qual acontecia ao matador - uma dinâmica entre proximidade e distância, e veremos os perigos envolvidos tanto na identidade excessiva quanto na alteridade desmedida.Item Estado nutricional, absorção e tolerância a lactose e sobrecrescimento bacteriano no intestino delgado de crianças índias Terenas - Mato Grosso do Sul(1998) Alves, Gildney Maria dos SantosEste estudo foi realizado com crianças índias Terenas do Mato Grosso do Sul com os objetivos de avaliar: 1. o estado nutricional da população infantil; 2. a capacidade de absorção e a tolerãncia à lactose; 3. a ocorrência de sobrecrescimento bacteriano no intestino delgado; 4. a prevalência de parasitoses intestinais. Foi estudada a totalidade da população infantil das crianças Terenas das Aldeias de Limão Verde e do Córrego Seco com idade inferior a 10 anos, no ano de 1995. O estado nutricional foi avaliado em 264 crianças com base no peso e na estatura, utilizando-se a tabela do NCHS como referência. O teste do hidrogênio no ar expirado, após a administração de lactose (l8g em solução a 10 por cento ), foi avaliado em 251 crianças. A tolerãncia a lactose, teve como base o aparecimento de manifestações clínicas nas 72 horas após sua administração. A ocorrência de sobrecre'scimento bacteriano foi avaliada pelo teste do hidrogênio no ar expirado após a administração de lactulose (5g em solução a 50 por cento ) em 252 crianças. Exame parasitológico de fezes foi realizado em amostras provenientes de 244 crianças pelos métodos de Faust e Hoffman. Os resultados mostraram que o estado nutricional das crianças Terenas é adequado, sendo baixa a ocorrência de desnutrição energético-protéica atual (escore Z menor que -2.0 DP = 3,4 por cento ). Com relação à estatura para a idade, observou-se que 14,0 por cento das crianças se 2 encontravam com escore Z menor do que -2.ODP. Absorção deficiente e má absorção de lactose foi observada exclusivamente após o quarto ano de vida em 89,3 por cento das crianças avaliadas. Intolerãncia à lactose foi constatada em 37, 1 por cento dessas crianças. Sobrecrescimento bacteriano no intestino delgado foi caracterizado em l 1,5 por cento das crianças estudadas, sendo que o teste do hidrogênio no ar expirado com a lactulose demonstrou, também, que todas as crianças eram produtoras de hidrogênio. Giardíase foi a parasitose intestinal de maior prevalència (30,2 por cento ) destacando-se a baixa prevalência de ascaridíase (l,6 por cento ) e ancilostomíase (4, 1 por cento ), em relação à população pediãtrica de centros urbanos e de outras áreas indígenas. Em conclusão, a população infantil Terena apresenta baixa incidência de desnutrição atual. A ocorrência de déficit de estatura para a idade foi similar à da população brasileira e dos índios do Alto Xingu...(truncado)Item Ecologia alimentar em um grupo indígena: Comparação entre aldeias Nambiquara de Floresta e de Cerrado(1983) Setz, Eleonore Zulnara Freire; Brown Junior, Keith S.Este trabalho objetivou a análise da influência de ambientes diferentes e de diferentes estações do ano no nicho - mais especificamente em suas dimensões relacionadas com a ecologia alimentar - de duas populações humanas, de um mesmo grupo indígena. Como a cultura básica é comum às duas populações estudadas, ela é considerada uma constante em termos das origens históricas permitindo assim uma abordagem biológica focalizada nos efeitos culturais das diferentes disponibilidades de recursos alimentares nos dois ambientes. Tendo em vista as previsões baseadas nas teorias"de otimização de forrageio ("foraging"), tentou-se delinear algumas características dos recursos atraves das tendências e direções que estes imprimem ao forrageio e a suas estratégias, e vice-versa. O grupo indígena Nambiquara (sudoeste do MT) foi escolhido por consistir uma unidade linguística de distribuição restrita, por possuir grupos locais não integrados organizações supralocais e por apresentar aldeias em região de floresta e de cerrado, relativamente próximas umas outras. Duas aldeias Nambiquara - Alantesu, na mata do Vale do Guapore, e Juína, no cerrado da Chapada dos Parecis- foram escolhidas para este trabalho, por apresentarem número de indivíduos aproximadamente igual, por serem de porte medio, por usarem poucos alimentos obtidos a partir de fontes externas, por oferecerem facilidade de se observar indivíduos de mais de uma família nuclear ao mesmo tempo, por serem de acesso razoável e por aceitarem bem a presença da pesquisadora na aldeia. Foi realizada uma caracterização das duas populações quanto à constituição etária, e a anotação dos nascimentos, falecimentos, migrações e visitas entre e durante o período amostrado. Também foi efetuada uma caracterização de ambos os locais, em termos de solos, condições meteorológicas e vegetação. O trabalho, em si, consistiu no levantamento dos itens alimentares e do registro de suas frequências de utilização na dieta; da ensuração de roças e da avaliação de suas produções; da estimação de colheita; do registro das saídas de caça, pesca e coleta e seus rendimentos (positivo, negativo e não observado ou não observável); do mapeamento das trilhas, percursos e locais utilizados nas atividades de subsistência, e da alocação de tempo para as atividades de subsistência. Em linhas gerais, os resultados e as conclusões foram: - os solos das roças dos Alantesu, no Vale, foram melhores para o cultivo do que os solos das roças nas matas de galeria dos Juína, na Chapada; - os produtos cultivados diferiram nas duas aldeias; - a área cultivada/indivíduo foi 'maior nos Alantesu do que nos Juína; - os Alantesu obtêm seus alimentos principalmente a partir de colheita, e os Juína, em coleta; - os Juína usaram mais insetos na sua dieta do que os Alantesu; - a pesca tem importância significativamente maior nos Alantesu (em termos de frequência de utilização dos seus produtos) do que nos Juína; - a diversidade de itens na dieta foi maior nos Juína do que nos Alantesu; - a duração do dia útil foi maior nos Juína do que nos Alantesu; - os Juína gastaram proporcionalmente (2,3x) e em termos absolutos (2,1x) mais tempo nas atividades relacionadas com a subsistência do que os Alantesu; - os Alantesu gastaram principalmente mais tempo em caça e os Juína, em coleta; os Juína utilizaram uma área 4,4x maior do que os Alantesu; - a densidade populacional na irea utilizada pelos Alantesu (incluindo os visitantes Wasusu) foi 7,7x maior do que nos Juína. As aldeias apresentaram nítidas diferenças nas dimensões de nicho estudadas, relacionadas à ecologia alimentar. Analisadas através das teorias de otimização de forrageio, estas dimensões indicam diferenças nas abundâncias de alimentos nos dois ambientes. As estratégias das duas populações tendem a maximizar suas eficiências de forrageio em resposta às diferentes abundâncias de alimentos nestes dois ambientesItem Indígenas na Escola Médica no Brasil: experiências e trajetórias nas universidades federais(2021) Luna, Willian Fernandes; Cyrino, Eliana GoldfarbA trajetória do ensino superior no Brasil, em especial, da graduação em medicina, é marcada pela restrição a um grupo privilegiado da população. Nas últimas duas décadas, a partir de reinvindicações do movimento indígena, ações afirmativas foram sendo desenvolvidas para garantir o direito de acesso a essa população, o que possibilitou o ingresso de indígenas em escolas médicas no país. Esta pesquisa teve como objetivo compreender as experiências e trajetórias de indígenas que cursavam a graduação em medicina em universidades federais brasileiras, entre os anos de 2018 a 2020, a partir de suas narrativas. Buscou-se compreender as estratégias que possibilitaram o ingresso nos cursos; analisar as vivências destes estudantes no processo de ingresso e permanência; reconhecer o encontro entre as suas vivências histórico-culturais e os conhecimentos ofertados na graduação; descrever projetos e perspectivas de atuação futura. A pesquisa foi de abordagem qualitativa, com uso de questionário, entrevistas narrativas individuais, rodas de conversa e diário de campo. Identificou-se 43 cursos de medicina com presença de indígenas, realizando-se encontros presenciais em 14 escolas médicas, com participação de 40 estudantes, de 25 diferentes povos indígenas. Realizou-se análise temática de conteúdo, com definição das categorias: acesso e políticas de permanência na universidade; alteridade na escola médica; sofrimento e resiliência; identidade e coletividade; experiências na e para a saúde indígena. Por meio dos encontros presenciais, ficou estampada a multiplicidade de experiências e trajetórias, característica marcante dos universitários indígenas nas instituições. O ingresso nos cursos se deu quase que exclusivamente por ações afirmativas. Percebe-se que a graduação em medicina oferta uma formação baseada na biomedicina e na exclusão de outras racionalidades, dentre estas, as indígenas. A escola médica está composta por um grupo pouco acolhedor aos indígenas, com relações marcadas por posturas de preconceito, intolerância e tutela. Geram-se, assim, sofrimentos e perdas, de modo que tais estudantes buscam elaborar estratégias de resiliência para sobreviver às adversidades e permanecer no curso. A vivência universitária provoca o movimento de se afirmarem enquanto coletivo de povos indígenas e possibilita assumirem o protagonismo em construções possíveis. O curso de medicina não desenvolve aspectos relacionados à saúde indígena, todavia, a presença dos indígenas provoca discussões e possibilidades para o desenvolvimento de atividades relacionadas ao tema. Os indígenas mantêm suas relações com as comunidades de origem e possuem expectativas de atuarem em atividades relacionadas à saúde indígena após a graduação. Uma outra questão a ser destacada é a possibilidade de trazerem contribuições para a necessária transformação da escola médica. Por fim, as experiências e as trajetórias desses estudantes na escola médica revelam construções na direção de seu protagonismo e de possíveis e desejáveis autorias indígenas no sentido acadêmico, científico, político, epistemológico e para as práticas de cuidado em saúdeItem Plantas medicinais utilizadas nos rituais de cura do povo Arara-Karo(2015) Gavião, Sebastião; Nunes, Reginaldo de OliveiraEste trabalho visou preservar e revitalizar os conhecimentos tradicionais do povo indígena Arara Karo sobre o uso das plantas medicinais. No entanto, os jovens pouco sabem como se usam as plantas para cura de diversos tipos doenças. Neste sentido, o objetivo do estudo foi registrar o uso das plantas medicinais visando deixar para futuras gerações terem conhecimento como é importante preservar a cultura do seu povo. O trabalho foi desenvolvido na aldeia I'terap, Terra Indígena Igarapé Lourdes, município de Ji-Paraná, Rondônia, aproximadamente a 45 km da cidade. Atualmente são aproximadamente 450 pessoas na comunidade nas aldeias chamadas de I'terap, Paygap e Cinco irmãos. Foi realizada coletas de dados com os sabedores da comunidade, relacionando as plantas medicinais que o povo Arara utilizava como medicamentos naturais. Algumas informações coletadas os mais velhos dizem que muitas doenças não são necessárias serem curadas na cidade, porque existem no território indígena as ervas que podem curar algumas doenças aqui mesmo na aldeia. Espera-se que esse trabalho sirva de exemplo na comunidade para valorização da cultura do povo Arara e que incentive os jovens a procurarem os mais velhos para obter informações sobre o uso das plantas medicinais. Por isso, este trabalho foi importante para fortalecer a cultura tradicional do povo, uma vez oportunizando a nova geração a minimizar o uso dos remédios adquiridos em farmáciasItem Segurança alimentar nas escolas indígenas do Centro Willimon da Terra Indígena Raposa da Serra do Sol - RR(2013) Oliveira, Zelandes Alberto; Katz, EstherConforme estabelece a Constituição Federal do Brasil de 1988, a alimentação escolar é um direito do estudante, competindo ao Governo Federal, Estadual, Municipal e o Governo Distrital o fornecimento da alimentação aos estudantes enquanto permanecem na escola. A lei 11.947 de 16 de junho de 2009 estabelece que os recursos destinados à alimentação escolar deverão ser utilizados na aquisição de alimentos diretamente da Agricultura Familiar e do Empreendedor Familiar Rural, priorizando, entre outros, as comunidades indígenas. Este estudo sistematiza informações relacionadas à segurança alimentar e nutricional e avalia a aplicabilidade da política de alimentação escolar, conforme estabelecido no Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE, nas escolas indígenas do Centro Willimon da Terra Indígena Raposa Serra do Sol no estado de Roraima. Junto a estas escolas e nas respectivas comunidades, foram levantadas informações relacionadas à alimentação tradicional, visando subsidiar futuras composições de cardápio escolares mais adequados à alimentação e produção agrícola local, em contraposição à alimentação que atualmente é distribuída junto às escolas indígenas da região. O trabalho está dividido em quatro capítulos, tendo sido realizado em quatro comunidades indígenas (Urinduk, Lage, Monte Muriá I e Nova Monte Muriá II) dos povos Patamona, Macuxi, Wapichana e Taurepang, envolvendo levantamentos junto aos alunos, professores, produtores e outros membros das comunidades. Este estudo evidenciou a necessidade da aplicabilidade das políticas públicas voltadas às escolas da região pesquisadaItem Aspectos epidemiológicos descritivos da Leishmaniose tegumentar americana em duas aldeias indígenas Guarani - Paraty, RJ, Brasil(2001) Barbosa, Gina M. S.Realizou-se estudo epidemiológico descritivo sobre leishmaniose tegumentar americana (LTA), envolvendo duas populações indígenas Guarani (Araponga e Paraty Mirim), pertencentes ao Município de Paraty/RJ, Brasil, considerado região endêmica. Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a possível prevalência de casos positivos de LTA, através de avaliação clínica, seguida de diagnóstico laboratorial em humanos e cães residentes, como também um estudo da fauna flebotomínica nas duas aldeias supracitadas (…). Dos 90 índios pesquisados 77,6% foram positivos para IDRM e 100% dos cães foram positivos ao teste cutâneo. Na punção aspirativa obteve-se resultado negativo. Nenhum dos índios examinados clinicamente, apresentou lesões ou cicatrizes sugestivas de LTA, porém 12 índios foram acompanhados com avaliações otorrinolaringológicas periódicas, uma vez que apresentaram algum tipo de alteração sugestiva de LTA nas mucosas das vias aéreas digestivas superiores (VADS), como: rugosidade, infiltração, hiperemia. A Lutzomyia intermedia prevaleceu nas capturas realizadas nas duas aldeias com alta densidade. A diferença de altitude demonstrada em ambas as aldeias, não interferiu na freqüência das principais espécies flebotomínicas encontradas. A positividade demonstrada na resposta humoral, celular in vitro e in vivo, como também a positividade nos exames das VADS indicam que a possibilidade de alguns indivíduos saírem do perfil subclínico e desenvolverem algum tipo de lesão mucosa não deve ser menosprezada [AU]Item Desafios da assistência farmacêutica na saúde indígena em Pernambuco: uso racional de medicamentos e economicidade(2013) Santos, Mônica Maria Henrique dos; Lima, João Policarpo Rodrigues; Barros, José Augusto Cabral deAs dificuldades e os limites monetários encontrados pelas instituições de saúde no oferecimento de serviços de qualidade representam alguns dos fatores que mostram aos profissionais e gestores que é necessário maximizar o princípio de que o importante é saber gastar melhor - e não gastar menos. Para a Assistência Farmacêutica, essas análises devem ser tomadas como estratégias inovadoras para a sustentabilidade de suas ações, uma vez que os medicamentos representam o segundo maior gasto dentro do Sistema Único de Saúde. Este estudo tem como objetivo demonstrar o impacto da implantação das ações da Assistência Farmacêutica no Distrito Sanitário Especial Indígena de Pernambuco, sobre os valores gastos com medicamentos nas suas comunidades indígenas e as principais estratégias que contribuíram para a promoção do seu uso racional. Parte de uma abordagem econômica, identificando os percentuais gastos com medicamentos frente aos valores totais em saúde, comparando-os com os indicadores do Estado e dos municípios pernambucanos que contêm comunidades indígenas em seus territórios. Esse é um estudo retrospectivo, transversal e descritivo, através dos dados financeiros e populacionais do período de 2002 a 2011, apontados nos sistemas de informações oficiais da administração pública. No período analisado, observou-se um incremento médio anual de 19,74% nas despesas totais em saúde desse distrito sanitário, com uma demanda crescente nos valores totais em saúde; não obstante a isso, os percentuais dos gastos com medicamentos tiveram incremento de 2,59% no período de 2002 a 2006 com um crescimento em torno de 21,71%. Atividades de gestão da Assistência Farmacêutica no DSEI-PE começaram a ser implantadas em 2004. A partir de então, seus impactos econômicos começaram a ser percebidos. Ao longo dos últimos cinco anos do estudo, foi observado um decréscimo médio anual em gastos com medicamentos, partindo de 35,32%, em 2006, para 5,70% em 2011, apresentando, portanto, um decréscimo nesse período de 83,86%, ou seja, 6,2 vezes menos o percentual de 2006. No período total do estudo, identificou-se um decréscimo médio anual de 16,11% em despesas com medicamentos, comparados a um incremento de 73,77% nas despesas totais em saúde desse distrito sanitário. O estudo demonstrou que o acesso a medicamentos está diretamente relacionado à qualidade do serviço de saúde oferecido; ações inovadoras da gestão da assistência farmacêutica, implantadas nesse distrito sanitário, principalmente investimentos em contratação e capacitação de pessoas, e estruturação de serviços farmacêuticos, otimizaram os recursos disponíveis e melhoraram a qualidade da assistência farmacêutica prestada à sua população.Item Prevalência de enteroparasitoses e condições sanitárias na comunidade indígena Maxakali(2010) Assis, Eliseu Miranda; Coelho, George Luiz Lins Machado CoelhoO processo de colonização acarretou a extinção e a exclusão de muitas sociedades indígenas que viviam no território dominado pelo homem branco. Observa-se que doenças hoje triviais, como gripe, sarampo e coqueluche e outras mais graves, como tuberculose e varíola, vitimaram muitas vezes sociedades indígenas inteiras. Percebe-se que seus territórios, aldeias, vilas e moradias, não são atendidos por políticas públicas voltadas ao saneamento básico e que a má disposição dos dejetos possibilita o contato do homem com parasitas responsáveis por diversas doenças. A partir dessas evidências, o objetivo geral deste estudo foi o de levantar informações a respeito das condições de saúde da população indígena Maxakali estimando a prevalência das enteroparasitoses e correlacionando-a com a infra-estrutura sanitária e as condições socioeconômicas. A etnia Maxakali, apesar de todas as tentativas de extermínio, é uma das poucas que conseguiram permanecer com os vários aspectos de sua cultura sendo a segunda maior população indígena aldeada do Estado de Minas Gerais com aproximadamente 1516 indivíduos, concentrando sua pirâmide etária na primeira idade. O estudo foi do tipo transversal censitário. Como resultado encontramos uma taxa de positividade de 89,48%, com pequena variação quanto ao sexo; quanto a aldeia, a de Rafael (Topázio) foi a que apresentou a maior frequência de infecção parasitária, com 96,6% de amostras positivas. Os parasitas mais freqüentes foram a Entamoeba histolytica, Entamoeba coli, e os Ancilostomídeos. O S. mansoni apresentou 23,7% de positividade. A taxa de poliparasitismo foi de 71,63%. O poliparasitismo foi mais freqüente nas faixas etárias de 19 a 59 anos com 93,9% de casos positivos. As parasitoses associaram-se significativamente com a infra-estrutura dos domicílios, isto é, quanto piores as condições de saneamento maiores foram as taxas de infecção. Como relevância, este trabalho destaca-se por ser o primeiro a identificar a prevalência de parasitoses e as condições de saneamento na população indígena Maxakali, confirmando o grau de vulnerabilidade social, elevada taxa de infecção parasitária, elevado índice de poliparasitismo, ausência completa de infraestrutura para tratamento de água e destino dos dejetos nas aldeias, sendo aspectos semelhantes encontrados em outras etnias indígenas, no Brasil.Item Demografia dos povos indigenas do alto rio Negro/AM : um estudo de caso de nupcialidade e reprodução(2003) Azevedo, Marta Maria do Amaral; Oliveira, Maria Coleta Ferreira Albino de; Buchillet, DominiqueEsta pesquisa se insere nas áreas temáticas da demografia antropológica de etnias, focalizando especificamente a nupcialidade e reprodução, tendo assim uma necessária interface com os estudos etnológicos sobre os povos indígenas em geral e do noroeste amazônico em particular. Pretende-se contribuir com essa interface disciplinar através da incorporação das teorias antropológicas sobre os povos indígenas da região do Alto Rio Negro, noroeste amazônico, testando as hipóteses antropológicas sobre o casamento através de análises demográficas e incorporando nessas análises as idéias e teorias já formuladas. A hipótese que norteia este trabalho é de que as concepções indígenas sobre casamento e reprodução (na antropologia formulada enquanto teorias de aliança e descendência) têm estreitas relações com os padrões de nupcialidade e fecundidade encontrados. Esta discussão que se insere nos estudos demográficos sobre povos indígenas, fecundidade, transição demográfica, e demografia da famíliaItem Plantas medicinais do povo Pangyjej-Zoró: a importância das plantas medicinais(2015) Gavião, Cristiane Ambé; Nunes, Reginaldo de OliveiraEsta monografia teve como objetivo realizar um estudo sobre a utilização de plantas medicinais pela comunidade indígena Zoró, de Rondolândia, Mato Grosso, a fim de resgatar, preservar e utilizar este conhecimento tradicional em trabalhos com a comunidade. O conhecimento sobre essas plantas e seus procedimentos terapêuticos é transmitido de geração em geração, principalmente pelos sabedores. Utilizamos a metodologia de pesquisa qualitativa; com entrevistas feitas com dois homens de lugares diferentes, sendo um da aldeia Pawãnewã e outro da aldeia Anguj Tapua, para fornecer as informações necessárias para a pesquisa. Foi feito trabalho de campo com várias sabedoras, estas mostraram as plantas e explicaram seu valor medicinal, bem como as receitas para extrair o medicamento para o tratamento das doenças. Portanto, a pesquisa foi norteada e guiada pelas Sabedoras e os Sabedores Zoró que praticam as atividades da cultura no cotidiano da vida, as mesmas compreendem melhor como reconhecer as plantas medicinais, modo de preparação e formas da utilização de cada erva.Item Comida forte e comida fraca: Alimentação e Fabricação dos corpos entre os Kaingáng da Terra Indígena Xapecó (Santa Catarina, Brasil)(2009) Oliveira, Philippe Hanna de Almeida; Langdon, Esther JeanEste trabalho se propõe a compreender a alimentação dos Kaingáng da Terra Indígena (TI) Xapecó(SC) por uma perspectiva antropológica, contemplando seus aspectos práticos e simbólicos. Entre os povos ameríndios a alimentação articula-se intimamente com suas concepções sobre corpo, influenciando-o diretamente. Entre os Kaingáng, a fabricação dos corpos articula-se com a mudança ocorrida na alimentação entre o “tempo dos antigos” e hoje. De acordo com a rede semântica nativa, a “comida antiga” era mais “forte” que a atual, bem como o corpo das pessoas que dela comiam. A nova comida, do “branco”, considerada “fraca”, estaria construindo corpos também “fracos” e mais suscetíveis à doenças entre os jovens. São abordados ainda festas, jogos, visitas e outros modos de compartilhamento de comida. Esses eventos serão analisados à luz da cosmologia Kaingáng, a fim de entender a lógica da generosidade e as diversas trocas operadas nesses contextos, seja entre homens ou entre homens e deuses. Essas práticas são compreendidas como práticas de auto-atenção à saúde do grupo um como todo, tendo em vista que fortalecem todo o corpo social, além de valorizarem a distribuição e produção de “comida forte”, considerada saudável pelos Kaingáng.Item Articulações e implicações da noção de perspectiva no construtivismo semiótico-cultural para a compreensão das relações eu - outro: possível diálogo com o perspectivismo ameríndio(2010) Guimarães, Danilo Silva; Simão, Livia MathiasPartindo da compreensão de que os seres humanos nascem e se desenvolvem no tecido cultural, que atravessa processos singulares de subjetivação bem como disponibiliza campos estruturados de ação, nosso primeiro objetivo neste trabalho foi sistematizar algumas proposições geradas no âmbito das pesquisas do construtivismo semiótico cultural em psicologia, a respeito das relações eu outro. Em segundo lugar, levando em conta essas proposições, buscamos articulá-las em torno da noção de perspectiva. A noção de perspectiva, aqui em foco, envolve os posicionamentos pessoais na experiência vivida, viabilizando determinada visão dos outros e das coisas, em detrimento de outras visões. Pautados pelo dialogismo teórico-metodológico em psicologia, buscamos promover um diálogo confrontador entre construtivismo semiótico cultural em psicologia e o perspectivismo ameríndio em antropologia, sobre suas respectivas noções de perspectiva. No construtivismo semiótico cultural a noção de perspectiva toca questões como: a multiplicidade de posicionamentos pessoais em face de objetos culturais (Marková, 2003/2006); a alteridade do outro (Lévinas, 1964/1991), que tem uma trajetória de vida singular, internalizando referências significativas no processo de construção de conhecimento; o cruzamento de olhares entre eu e outro a partir de e para suas corporeidades; a noção de ação simbólica de Boesch (1991); a articulação entre os planos intersubjetivo e intrassubjetivo da experiência humana. Na abordagem do perspectivismo ameríndio, por sua vez, a questão da fabricação do corpo, no seio do convívio social, é central para o entendimento do processo de construção de identidades e alteridades. Como resultado do diálogo confrontador, encontramos algumas divergências entre as duas noções de perspectiva postas em foco, especialmente no que se refere à questão da multiplicidade de entendimentos pessoais em relação a um objeto presente na abordagem psicológica e à questão do estatuto da realidade (ao invés de entendimentos sobre a realidade), que tem um papel importante na abordagem antropológica. Com o objetivo de continuar a pesquisa na interface entre essas duas áreas, sobre a qual a presente pesquisa pode ser considerada uma empreitada inicial, buscaremos aprofundar distinções conceituais em ambas as áreas de construção de conhecimento. Essa exploração mais acurada deve incluir nítidas distinções conceituais quanto às noções de sujeito, pessoa e indivíduo em ambos os campos de saber aqui confrontados. No entanto, uma primeira tentativa nessa direção já foi elaborada neste trabalho ao se discutir o artigo de Lima (1996), pautado pela noção de indeterminação restringida (Valsiner, 1998). O resultado dessa tentativa foi a elaboração de um modelo instrumental de multiplicação dialógica referido a objetos do campo de representações sociais. Mantendo o objetivo de explorar o potencial dos resultados obtidos para pesquisas futuras, procuramos discutir um caso clínico relatado e analisado por Boesch (1991) de acordo com nosso modelo instrumental. Consideramos que os resultados apontam para a relevância de se continuar na direção do percurso iniciado para o entendimento de diferenças no interior e entre pessoas e sociedades, a respeito de seus universos semióticoculturais. Esperamos também que este tipo de pesquisa possa gerar sistematizações teóricoepistemológicas úteis para profissionais e pesquisadores em suas reflexões e decisões diante de fenômenos psicossociaisItem Sustentando o Cerrado na Respiração do Maracá: conversas com o mestre Krahô(2013-01) Aldè, Veronica; Catalão, Vera Margarida Lessa; Tugny, Rosangela PereiraA partir de conversas com os anciãos, professores e pesquisadores Krahô, foi desenvolvido um trabalho de mapeamento e tradução dos cânticos do Ritual do Milho (AmjekimPohy Jô Crow), um dos principais eventos do ciclo anual de plantios dessa etnia. O ritual, os cânticos, e a narrativa de ”Catxekwyj e a Árvore do Milho” nos revelaram as densas e sonoras relações existentes entre homens, ambientes e todas as formas de vida que povoam um dos mais antigos e complexos Sistemas Biogeográficos do planeta - o Cerrado. Os materiais resultantes dessa pesquisa (Dvd e Relatório de Pesquisa) - realizada na perspectiva da interculturalidade e da pesquisa participativa – nos deixam pistas importantes do potencial educativo contido nessas vozes e estéticas ainda tão pouco conhecidas. Refletindo sobre alguns temas específicos como sustentabilidade, alteridade e autoria indígena propomos um trançado pedagógico através da arte-educação, capaz de fazer germinar através do movimento criativo essas férteis sementes de cultura que muito contribuiriam na formação de novas gerações mais sensíveis e abertas aos diálogos interculturais e ás múltiplas “verdades” e conhecimentos que circulam continuamente na respiração pluriétnica nacional.Item Estudo da pressão arterial de índios Yanomami(1986) Carvalho, Jairo Jesus Mancilha; Souza e Silva, Nelson A. deCom o objetivo de analisar, em índios Yanomami adultos, a inter-relação entre pressão arterial e as variáveis constitucionais (idade, peso, altura e freqüência de pulso) e os eletrólitos urinários (Na+, K+, Ca++ e Mg++), foram estudados 125 índios do sexo masculino e 120 do feminino de dois grupos de aldeias com pequenas diferenças em relação ao contato com a civilização. A pressão arterial dos dois grupos foi similar, sendo a dos homens maior que a das mulheres em todas as faixas etárias. Os participantes mais expostos ao contato com indivíduos civilizados, contato esse avaliado pela habilidade para entender a língua portuguesa, apresentaram níveis mais elevados de pressão arterial. A pressão sistólica diminui com a idade e apresentou correlação positiva com o peso corporal, a freqüência de pulso e a concentração urinária de Na+. A pressão diastólica apenas se correlacionou com o peso corporal. A altura e as concentrações urinárias de K+, Ca++ e Mg++ não apresentaram correlação com a pressão arterial.