Índios, jesuítas e bandeirantes: Medicinas e doenças no Brasil dos séculos XVI e XVII
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Thesis
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2009
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Isolados durante milhares de anos, os indígenas não desenvolveram imunidade diante de vírus e bactérias originários de outros continentes. Apesar de seu habitat não ser destituído de uma grande variedade de moléstias (dentre elas o pian, a leishmaniose cutânea e a doença de Chagas), no contato com o colonizador, a deficiência de resposta imune Th2 para micro-organismos autóctones causou verdadeiras tragédias entre os brasilíndios, que sucumbiam por gripes, sarampo, disenterias e principalmente varíola. Médicos formados constituíam um grupo insignificante no Brasil colonial e diante do vazio profissional, jesuítas (os primeiros que se lançaram nas práticas médicas), curiosos, curandeiros, barbeiros, benzedeiras compunham um contingente expressivo. Todos praticavam uma medicina híbrida, formada inicialmente pela medicina popular européia e indígena; ambas possuíam uma noção materializada da doença que, uma vez instituída, deveria abandonar o organismo. Diante disso, a terapêutica baseava-se em sangrias, purgas e vomitórios, além de rituais, rezas e uso de amuletos para satisfazer o sobrenatural. Estas práticas médicas concomitantemente valeram-se da variada flora medicinal nativa e foram difundidas pelos bandeirantes, que desbravavam os sertões de norte a sul - por este motivo esta terapêutica foi denominada "Remédios de Paulistas" - e foi usada para diversos males como opilação (anemia), escrófulas, "carneiradas" (malária) e "meia-cegueira" (tracoma?), comuns nas matas e vilas incipientes. Nenhuma das medicinas, erudita ou popular - que na realidade eram muito semelhantes entre si - foi eficaz diante das epidemias. A despeito de serem os indígenas suas principais vítimas, elas matavam de senhores de engenho a escravos, faziam ruir a economia e causavam fome e desalento. Falências, crescentes dívidas para importar escravos africanos (mais caros, porém mais resistentes às doenças) constituíram por muitos anos um quadro sombrio da vida no Brasil. Num círculo cruel de causa e efeito, os escravos negros substituíram gradativamente o trabalho indígena nas lavouras, mas trouxeram mais doenças, como o maculo, a febre amarela, a malária (por P. falciparum) e a própria varíola. As tentativas indígenas na defesa de seu território resultaram em fracasso; a morte, na grande maioria das vezes, foi causada direta ou indiretamente pelas doenças infecciosas de além-mar e não por canhões e arcabuzes. Assim, na falta de uma imunidade eficaz, as guerras contra os colonizadores já estavam vencidas, antes mesmo de iniciadas.
Abstract
Isolated during thousands of years, native Brazilians did not developed
immunity to microorganisms from another continent. Despite the presence of
diseases in their habitat, (such as non venereal treponematosis, cutaneous
leshmaniosis and Chagas’ disease), with exposure to alien explorers, the
deficiency of an immune response Th2 to viruses and foreign bacteria, truly
decimated the native population of Brazil, which succumbed secondary to
primarily small pox, but also to the flu, measles and dysentery. Trained
physicians were scarce in colonial Brazil, and due to this professional void,
Jesuits (the first to start medical practices), curious people, shamans, barbers
and faith healers tried to replace them; all practiced a hybrid form of medicine,
based initially in the popular European medicine combined with native roots.
Both schools of thought had a “material” concept of the diseases; that is, once
developed, it had to abandon the organism. As such, therapy was based in
exsanguinations, intestinal cleansing and forced vomit, in addition to rituals,
praying and use of amulets to appease the supernatural world. These medical
practices made extensive use of the varied native medicinal flora, and this
knowledge was spread out by the alien explorers of the north and south remote
regions – as a consequence, this therapy was called “ Remedios de Paulistas”,
i. e., Medicine of Sao Paulo - , and it was used for a variety of maladies such as
anemia, scrofula, malaria, and trachoma, diseases common in the jungle and
adjacent hamlets. None of the medical practices – classic or popular (very
similar to each other) – was efficacious against any epidemics. Despite native
Brazilians being most affected, epidemics also killed African slaves and their
owners, ruining the economy and causing hunger and discouragement.
Personal bankruptcy, increased debts for buying African slaves (more
expensive, however more resistant to diseases) lead to, for many years, a
somber lifestyle in Brazil. In a cruel circle of cause and effect, African slaves
gradually replaced native Brazilians as work force in the plantations; on the
other hand, they also brought in diseases such as infectious recto colitis, yellow
fever and malaria – caused by P. falciparum, and even small pox. All native
Brazilian resistance to colonization resulted in failure; death, in the vast majority
of cases, was caused directly or indirectly by the exposure to alien diseases,
and not by cannons or guns. As a consequence, due to lack of an efficient
immune system, the battle against the colonizers was already lost, even before
it had started
Abstract in Spanish
Abstract in French
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Keywords in Portuguese
Brasil Colonial, Relações Interéticas
Keywords
Keywords in Spanish
Keywords in French
DeCS
Brasil, Saúde de Populações Indígenas, Índios Sul-Americanos, História da Medicina
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GURGEL, Cristina Brandt Friedrich Martin. Índios, jesuítas e bandeirantes : Medicinas e doenças no Brasil dos séculos XVI e XVII. 2009. 194 f. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Medicas, Campinas, 2009
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Defense Institution
Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas
Degree date
Defense location
Campinas/SP
Programa
Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica