ASMT - Teses de Doutorado

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    Produção de saúde e práticas de cuidado entre os Kaiowa em Mato Grosso do Sul
    (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2022) Moretti, Leandro Lucato; Gonçalves, Maria da Graça Marchina
    Essa pesquisa, foi construída em conjunto com o povo Kaiowa, um grupo Guarani da região sul do estado de Mato Grosso do Sul. O contexto da região é marcado por projetos políticos da sociedade não indígena, dos karaí, pautados em atividades econômicas, do chamado agronegócio. Essa forma de produção, que visa gerar lucros, demanda uma ampla ocupação de terras e coloca pressão nos territórios kaiowa, cada vez mais populosos, e que não garantem as condições necessárias para reprodução de seus modos de vida e organização social. É a partir disso, que surge a necessidade da psicologia se colocar como aliada dos Kaiowa, e dos povos indígenas em geral, em suas lutas pela garantia de seus direitos, territórios, fortalecendo seus modos de vida e conhecimentos. A presente pesquisa teve por objetivo investigar, identificar e dialogar com a produção de saúde e cuidado entre os Kaiowa em Mato Grosso do Sul, analisando as concepções de pessoa e subjetividade que estão aqui relacionadas. Especificamente, buscou-se identificar e descrever: práticas de cuidado a que recorrem e que acionam quando consideram necessário, naquilo que se denomina casos de saúde mental; como identificam possíveis agravos e/ou enfermidades e como classificam formas de agir vistos negativamente; como se dá a construção do cuidado por meio de práticas próprias e também acionando equipamentos da saúde indígena disponíveis. Para se alcançar esse objetivo, optouse pela utilização do método etnográfico, construindo um diálogo entre categorias da psicologia social sócio-histórica e da antropologia, permitindo enlaçar os temas que são foco desta pesquisa: produção de cuidado e saúde, e saúde mental indígena em diferentes perspectivas, procurando construir boas relações com conhecimentos kaiowa. Dessa forma, os dados e informações foram obtidos através da observação participante, resultando em aproximações com as dinâmicas de produção de conhecimento e organização social destes povos, considerando suas perspectivas e categorias em sua centralidade. Desse modo observa-se que que os Kaiowa produzem sua própria forma de conceber aquilo que, nós não indígenas, convencionamos chamar de psicologia, a partir do que vão explicar os processos de construção de pessoas, corpos e subjetividades, utilizando categorias nativas pautados em suas redes e conjuntos de conhecimentos. O que permite concluir que a capacidade de produzirem práticas de cuidado e organizar seus sistemas de conhecimentos a respeito da saúde, para darem respostas às questões que consideram problemáticas, constantemente elaboradas e reelaboradas, são consideradas uma capacidade de resistência e uma recusa perante as constantes ações coloniais que buscam normatizar a vida kaiowa